Trecho traduzido da autobiografia de Burgess, Now I Remember, publicada pela Little Brown em 1960.
“Quando alguém se torna um autor? O dicionário Webster define autor da seguinte maneira: ‘o criador de qualquer coisa; originador. Aquele que compõe ou escreve algo, como um livro; compositor; escritor’.
Isso é relativamente compreensível. Entretanto, me parece que para a mente leiga não é até que o trabalho de alguém apareça entre capas que um escritor é realmente um autor. Até então a pessoa é apenas um escritor. Existe glamour em estar entre capas. Por que, eu não sei. Mas deixe o filho nascido da mente aparecer assim vestido, independentemente do tamanho ou formato do volume, que o pai orgulhoso com certeza se torna um autor, bona fide, sem dúvida alguma. É uma etapa acima de ser meramente um escritor, mesmo que o produto esteja uma etapa abaixo em termos de qualidade do trabalho.
Anos atrás, após a publicação de muitos livros, me perguntaram em uma entrevista de rádio qual era o título de meu primeiro livro. Eu estava prestes a nomear o primeiro volume da série de livros infantis que deu origem à minha reputação, como se construiu, quando o entrevistador disse: ‘Foi The Bride’s Primer?’.
Foi. Eu havia me esquecido de que tal livro sequer existisse. No tempo em que passei com a Good Housekeeping, havia escrito algumas linhas de texto, ilustradas de forma cômica por F. Strothman, que apareceram em páginas duplas em uma seção especial da revista todos os meses ao longo de um ano inteiro. E fora bem recebida o suficiente para que os editores as colocassem entre capas, creditando-me como autor. Até então eu era apenas um escritor.
Entretanto, eu sempre senti que realmente me tornei um autor com a publicação de Old Mother West Wind (Velha Mãe Vento Oeste) em 1910. Este foi o primeiro de meus numerosos livros sobre Peter Rabbit (Peter Coelho) e seus amigos dos Green Meadows (Campos Verdejantes) e da Green Forest (Floresta Verde). As histórias do primeiro volume não foram escritas para publicação, mas sim para meu filho pequeno, órfão de mãe, que estava fazendo uma visita de um mês em Chicago, com uma das avós. Toda noite após o jantar eu escrevia uma história ou alguns versos e enviava para ele. Posteriormente, duas ou três delas foram publicadas na Good Housekeeping.
Certo dia, um representante de uma das editoras mais antigas dos Estados Unidos – Little, Brown and Company, de Boston – visitou nossa redação para falar com meu superior, o editor-chefe. Durante a conversa, este disse, acenando com a cabeça em minha direção: ‘o Burgess ali tem umas histórias interessantes para crianças’.
O visitante veio até a minha mesa, se apresentou e me pediu para ver as histórias. Ele leu uma ou duas, perguntou quantas eu tinha e me apressou a reuni-las e enviá-las à Little, Brown para que considerassem um possível livro. Eu concordei que o faria, mas com pouco entusiasmo. Eu estava sob a impressão geral de que, para que o manuscrito de um desconhecido fosse considerado de forma favorável, o escritor precisava ‘ter amigos na corte’, ou alguma influência pessoal. Eu não poderia estar mais errado.
Eu enviei as histórias, quatorze delas, tudo que eu tinha. Para meu espanto, dentro de uma semana ou duas o inacreditável aconteceu: eu assinei um contrato que me tonaria um autor, bona fide. Era o contrato de Old Mother West Wind. Eram necessárias mais duas histórias para tornar o pequeno volume um pouco maior. Por duas noites seguidas eu voltei ao escritório e coloquei uma história no ditafone para serem transcritas no dia seguinte. Quando foram enviadas, um total de desesseis histórias, eu disse para o pessoal de casa que havia escrito a última história de animais que conhecia, que havia exaurido minha criatividade. Era verdade – naquele momento.”
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Thornton Burgess continuou escrevendo continuamente para crianças até o ano anterior à sua morte, aos 91 anos. Ele publicou pelo menos 70 livros e mais de 15 mil histórias em sua coluna nos jornais.
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